E se o problema não for a geração Z ou X, mas o modelo mental de quem ainda desenha o jogo?
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18 de mai. de 2025
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por
Paulo Escrivano
De tempos em tempos, o mercado parece sofrer de um surto coletivo que elege uma geração para odiar — atualmente, o alvo é a geração Z. Dizem que são mimados, impacientes, ansiosos, não querem trabalhar. Mas, convenhamos: esse roteiro já foi usado antes. Já disseram o mesmo sobre os Millennials, e antes deles, sobre a geração X que ousou buscar propósito num mundo corporativo que valorizava apenas estabilidade.
A verdade é que estamos operando num modelo de trabalho construído para outra época — e cobrando das pessoas que se moldem a ele como se ainda estivéssemos em 1995.
Enquanto isso, o que muda de verdade não são só os profissionais. É a própria lógica do trabalho.

De quem é a responsabilidade de mudar?
Spoiler: não é da geração nova.
Na entrevista que dei para a revista Móveis de Valor, eu disse algo que sigo acreditando com ainda mais força: não é sobre oferecer um home office a mais ou um bônus de final de ano. É sobre entender como as pessoas pensam, sentem e interagem com o mundo. É sobre construir ambientes que respeitem o ritmo biológico e emocional das pessoas, que entendam o trabalho não como sacrifício redentor, mas como parte de uma vida com sentido.
É por isso que defendo uma abordagem biopsicossocial como bússola estratégica. Um modelo que entende o ser humano como sistema vivo e interdependente. Onde saúde, propósito e cultura não podem ser tratados separadamente. Onde “atrair talentos” exige mais do que campanhas no LinkedIn — exige cultura de verdade.
O mito do profissional ideal
Um dado da McKinsey (2023) aponta que 40% da força de trabalho global considera mudar de emprego nos próximos 6 meses. A palavra-chave aqui não é “instabilidade”, é “inadequação”. Estamos tentando fazer com que seres humanos hiperconectados e multifuncionais performem dentro de caixinhas que não cabem mais nem nos PowerPoints dos RHs.
E isso não é só sobre a Z. É sobre um sistema inteiro que ainda opera com base em comando e controle, mas que precisa urgentemente migrar para confiança e co-criação.
O novo profissional é um sistema sensível
Ele não é apenas um cargo. Ele é repertório, linguagem, saúde mental, trajetória, escolhas e contradições. E sabe o que é mais revolucionário? Ele sabe disso.
É por isso que empresas que operam com inteligência cultural, como fazem a Accenture, a IDEO e até a Netflix, estão prosperando: elas entendem que gente não é recurso, é cultura em movimento.
E se você ainda está buscando o “fit” perfeito, talvez seja hora de repensar se é o “terno” que está apertado — ou o modelo inteiro da alfaiataria corporativa.
O que isso tem a ver com design de ambientes de trabalho?
Tudo. Porque o que está em jogo não é onde as pessoas trabalham, mas como elas se sentem fazendo isso.
Pense na série Severance (Apple TV+), onde os personagens vivem uma realidade onde a vida pessoal e a profissional são completamente desconectadas. Parece distopia, mas muitos escritórios ainda funcionam com esse mindset: “aqui dentro você é só seu crachá”.
O problema é que, do lado de fora, a vida está inteira — e ela quer entrar.
Então qual é o caminho?
Parar de usar gerações como desculpa e começar a usar inteligência como estratégia.
Investir em escuta ativa, ambientes que promovem segurança psicológica, lideranças emocionalmente maduras e sistemas que aprendem com as pessoas (não o contrário). Trazer sociólogos, designers de experiência, cientistas do comportamento, neurodivergentes, mães solo, influenciadores da quebrada e gestores de dados para a mesma mesa.
Não é só sobre reter talentos. É sobre merecer tê-los por perto.
Vamos pensar o futuro juntos?
Não dito caminhos, mas revelo possibilidades, construindo pontes que conectam marcas ao futuro.
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