Antes de vender, uma marca precisa fazer sentido. E sentido, hoje, se constrói com histórias. Em um mercado saturado de produtos similares e promessas vazias, o storytelling surge como a principal forma de criar conexões afetivas e duradouras com o consumidor. Mais do que uma estratégia de marketing, contar histórias é uma forma de comunicar valores, posicionamentos e visões de mundo.
Vivemos em uma era onde os consumidores estão mais cínicos, atentos e exigentes. Eles não compram apenas produtos: compram causas, comportamentos, formas de ver a vida. E, nesse contexto, marcas que conseguem contar histórias verdadeiras sobre quem são, por que existem e qual impacto desejam ter no mundo, ganham não apenas visibilidade, mas relevância.
Narrativas que criam vínculo
O storytelling com propósito não é uma tendência; é uma necessidade. Marcas que ignoram isso, reduzem sua presença a uma função transitória: um produto entre outros. Mas aquelas que apostam em narrativas consistentes e coerentes, criam uma linguagem relacional com seu público. Um vínculo.
A coerência como novo luxo
O consumidor contemporâneo valoriza a coerência. É essa coerência que diferencia storytelling de pura publicidade. Não se trata de criar slogans comoventes ou campanhas emocionais que não encontram respaldo na prática. Trata-se de alinhar discurso e ação, forma e conteúdo. A narrativa precisa se sustentar na realidade da empresa, nas escolhas que ela faz diariamente.
No contexto europeu, essa consciência tem se tornado ainda mais aguda. Marcas como a holandesa Rituals se destacam por cultivar narrativas em torno do bem-estar, da presença e do cuidado. Mas essas histórias não estão apenas nas campanhas publicitárias: estão no design das lojas, na seleção de ingredientes, na experiência de compra. A coerência narrativa atravessa toda a jornada do consumidor.


Outro exemplo relevante é a Veja, marca francesa de calçados sustentáveis, que constrói sua narrativa em torno da transparência radical. Seus materiais, condições de produção e parceiros são abertamente divulgados. A história da Veja não é uma peça de marketing: é a própria estrutura da empresa. E isso, paradoxalmente, é o que a torna tão inspiradora.

Histórias que nos fazem ficar
O que o consumidor deseja, no fundo, não é ser convencido. É ser reconhecido. Ele quer encontrar marcas que dialoguem com seu modo de viver, com suas aspirações e angústias. Marcas que ofereçam mais do que um produto: um posicionamento, uma companhia, uma identidade ampliada.
Na era da exaustão informacional, a autenticidade virou ativo. E é cada vez mais raro. Por isso, quando uma marca encontra sua história autêutentica — e a sustenta ao longo do tempo, com consistência e escuta ativa —, ela conquista algo mais valioso que engajamento: confiança.
Uma boa história não precisa de viralização. Precisa de verdade. E é justamente nesse ponto que o storytelling se distancia da tendência e se aproxima da responsabilidade. Porque contar histórias com propósito não é sobre emocionar. É sobre fazer sentido. É sobre ficar.
Quando o tempo vira parte da estratégia
Essa busca por histórias com significado não é exclusiva das marcas. Ela também se reflete no comportamento de quem consome. Está em curso uma mudança silenciosa, mas relevante: um desejo crescente por conteúdo com mais curadoria e menos dispersão. Se antes o objetivo era "estar em todo lugar", hoje começa a ganhar valor o privilégio de escolher onde estar.
Nesse contexto, plataformas como o Substack representam mais do que uma moda. Elas são o símbolo de um novo pacto entre quem cria e quem consome: menos volume, mais profundidade. Mais escuta, menos urgência. E, sobretudo, uma relação mais direta, que não depende do humor do algoritmo.
Como bem apontou uma autora que discute cultura digital com olhar crítico, "offline" é apenas uma hipérbole para uma vontade muito concreta: usar a presença digital de outro jeito. Estar online, sim — mas com filtro, com intenção, com tempo. E não é por acaso que esse movimento ecoa exatamente o que se espera das marcas que queremos manter por perto: que não apenas ocupem espaço, mas que ofereçam sentido.
Talvez o futuro da comunicação de marca passe justamente por aqui. Não em dizer mais. Mas em dizer melhor. Não em gritar. Mas em contar uma boa história. Em tempos de dispersão, quem souber cultivar presença vai seguir relevante. Mesmo quando as telas estiverem desligadas.
Fim das tendências. Início do vínculo.
No fim das contas, escolhemos marcas que contam boas histórias não porque elas são as mais barulhentas, mas porque elas fazem sentido. Porque não falam com todo mundo, mas falam com a gente. Porque não prometem o futuro, mas acompanham o presente.
Contar boas histórias com propósito é, talvez, o único caminho possível para quem deseja mais do que um clique. Para quem deseja ficar.
Vamos pensar o futuro juntos?
Não dito caminhos, mas revelo possibilidades, construindo pontes que conectam marcas ao futuro.
Todos os direitos reservados ® Paulo Escrivano
2025


