Semana de Moda Inclusiva & Premio Bocaiuva.

Semana de Moda Inclusiva & Premio Bocaiuva.

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Premio Bocaiuva Moda Inclusiva

Estudo de Caso

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25 de set. de 2025

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por

Paulo Escrivano

Se a moda é responsável por colocar tudo no hype, por que ainda não hypamos a acessibilidade?

A moda sempre soube transformar qualquer coisa em desejo. Fez do upcycling um ícone de sustentabilidade, do streetwear um luxo bilionário, e até da o estranho um novo padrão estético. Mas fica a pergunta incômoda: se a moda é responsável por deixar tudo no hype, por que ainda não hypamos a acessibilidade?

A provocação ganha força quando olhamos para o que aconteceu em Campo Grande (MS). Foi ali, longe do eixo Rio–São Paulo, que nasceu a primeira Semana de Moda Inclusiva do Brasil, e hoje em sua segunda educação. É uma virada histórica fundada e conduzida pelo @bocaiuvamodainclusiva. E não é exagero dizer que esse gesto local já nasce global. Não falamos apenas de passarelas adaptadas, mas de coleções desenhadas para corpos e mentes plurais, avaliadas por critérios que vão da sustentabilidade à costura, escalabilidade, estética e inovação, provando que acessibilidade não significa abrir mão do design,significa repensar o próprio consumo.

Ao integrar o júri do Prêmio Bocaiúva de Moda Inclusiva eu percebi que não era sobre roupas. Era sobre futuros desejáveis e possíveis.

E talvez esteja aí a chave da próxima virada: se já falamos de gênero, raça e orientação sexual como pilares de transformação, a acessibilidade é o próximo grande pilar do futuro da moda. Mas como transformar esse discurso em prática escalável?

E o que a teoria da Nova Era Pendular nos revela sobre esse movimento de consumo?

Mais do que uma teoria, a Nova Era Pendular é um framework vivo de comportamento. Na tese que desenvolvi, a Nova Era Pendular, o consumo oscila entre extremos: global e local, estético e funcional, exclusão e inclusão. E a acessibilidade é o eixo que costura esses polos.

Se aplicamos os Horizontes da Inovação (H1, H2, H3), o quadro fica ainda mais claro:

• H1 (curto prazo): adaptar o que já existe: roupas, serviços e espaços que garantam usabilidade.

• H2 (médio prazo): criar novos modelos de negócios inclusivos: plataformas, coleções e experiências que coloquem a diversidade no centro.

• H3 (longo prazo): redesenhar o paradigma do consumo, onde acessibilidade não é diferencial, mas pré-requisito.

Os números não deixam dúvidas. A ONU estima que mais de 1 bilhão de pessoas vivem com algum tipo de deficiência no mundo, o equivalente a 15% da população global【ONU, World Report on Disability, 2011】. No Brasil, o Censo 2022 do IBGE aponta que 18,6 milhões de brasileiros declararam ter pelo menos uma deficiência【IBGE, Censo Demográfico 2022】. O relatório da McKinsey “The Value of Disability Inclusion” (2020) mostra que empresas inclusivas têm 28% mais receita e 30% maior lucratividade do que aquelas que ignoram esse público. Estamos falando de um mercado trilionário, ainda subexplorado por marcas que seguem tratando acessibilidade como detalhe ou caridade.

E aqui está o paradoxo: conseguimos escalar tudo: logística, streaming, fintechs, fast fashion, mas seguimos incapazes de escalar a acessibilidade. Por quê? Talvez porque isso exija mais do que ajustes de superfície; exige repensar processos, cadeias produtivas e mentalidades.

O que o Prêmio Bocaiúva sinaliza é que não estamos falando de futuro distante. A mudança já começou no Cerrado, com iniciativas que demonstram que acessibilidade não é só ética, é também inteligência de negócio. Depois de falarmos sobre gênero, raça, orientação sexual, chegou o momento de reconhecer que a acessibilidade é o último pilar do futuro da moda.

Do centro-oeste brasileiro para o mundo, emerge um novo paradigma: o luxo do amanhã será incluir. Porque se a moda já hypou microbags, crocs e logomania, talvez esteja na hora de colocar no hype aquilo que realmente pode transformar vidas: a acessibilidade como cultura, economia e movimento de consumo.

Vamos pensar o futuro juntos?

Não dito caminhos, mas revelo possibilidades, construindo pontes que conectam marcas ao futuro.

Todos os direitos reservados ® Paulo Escrivano

2025